15.5.12

a garota de Peter

Eu achava o Peter Pan um personagem meio antipático, meio ardiloso, meio em cima do muro, meio dentro do armário. Além de implicar com aquele look camisa rasgada - sapatilha pontuda, sempre achei bastante ridículo um garoto que mora na casa do Michael Jackson e pensa que pode ser criança para sempre. Ironicamente, como tudo na vida, hoje eu entendo a cabeça desse moleque, e até perdoo a quedinha inútil que a Wendy tinha por ele - o que ela gostava mesmo era da ideia de não crescer. 

Crescer é virar o que vc queria ser quando crescer. É admitir que não está mais perdida, e, finalmente, se engajar. É depender visceralmente do seu despertador, é fazer conta do imposto de renda, é dar vida a algumas escolhas enquanto observa as outras morrerem. 

Se antes de morrer, aliás, vc vê um filme da sua vida, antes de crescer vc vê o play do seu prédio. Pra mim, pelo menos, apareceu a gangorra de lá. Crescer é assim. Em uma fração de segundos vc precisa tomar uma atitude, mas, inocente, acha que pode se manter no ar. É o exato momento em que a brincadeira pesa pro seu lado; logo vc, que ficava com os pezinhos balançando, nas nuvens, negligente da miséria humana, da finitude das coisas, da mentira do mundo. De repente vc percebe que a gravidade tá te tirando lá de cima - não digo apenas a gravidade de Newton, mas, principalmente, a gravidade dos fatos. 

Nesse instante vc é obrigada a admitir que era mais divertido ficar de castigo, mas nota que chegou o tempo de levar o tranco, por que - não adianta - ninguém mais vai te castigar pelos seus erros. 

Crescer, no final das contas, é saber que é preciso ter os pés no chão. Mas pra quem já foi uma garota perdida, é saber também que é preciso voar.




               
      :)